No dia 17 de abril de 1996 aconteceu o conflito de terra mais grave durante o governo FHC: o assassinato de 21 trabalhadores rurais em Eldorado de Carajás, no Pará. Cerca de 1,5 mil camponeses caminhavam pela estrada até o município de Belém levando reivindicações ao governador Almir Gabriel (PSDB), quando foram impedidos de prosseguir por 155 policiais militares. Numa ação extremamente violenta, a polícia reprimiu a marcha, provocando a morte de 21 trabalhadores rurais, mutilando outros 69, ferindo centenas de pessoas.
Assim que recebemos a notícia do massacre no Senado os senadores Ademir Andrade (PSB-PA, Fernando Coutinho Jorge (PMDB-PA), Totó Cavalcante )PPB-PI), Sebastião Rocha (PDT-AP), José Eduardo Dutra (PT-SE) e eu formamos uma comissão para ir ao local. Quando chegamos em Marabá, fomos ao improvisado Instituto Médico Legal e ficamos impressionados com o estado dos corpos dos trabalhadores sem-terra assassinados pela polícia. Nenhum tinha em seu corpo a vestimenta completa: alguns tinham calça; outros tinham calça e camiseta; outros calça e uma bota velha, sem meia e assim por diante. Além de ferimentos de fuzis e metralhadoras, eles foram mutilados com os seus instrumentos de trabalho, causando em nós um impacto fortíssimo. Na mesma noite visitamos os feridos nos hospitais e conversamos com cada um deles, tomando ciência da dramática situação.
Nós ficamos tão impressionados com aquela cena que pedimos uma audiência ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando chegamos com as fotos dos corpos, espalhamos pela mesa. O presidente ficou muito impressionado, e expressou sua indignação ao dizer que aquilo era “inaceitável”. As fotos dos trabalhadores vítimas do massacre eram assustadoras pelo nível de violência empregado.
Dos 155 policiais que participaram do massacre, apenas Mário Pantoja e José Maria de Oliveira, comandantes da operação, foram condenados a penas que superam os 150 anos de prisão. Os demais militares foram absolvidos.