Jornal do Brasil

Nesse verão, várias catástrofes aconteceram em nosso país principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Várias cidades alagadas, vidas ceifadas, edificações destruídas, lares destroçados. Dentre os municípios mais afetados estão Angra dos Reis, São Luiz do Paraitinga e Cunha.
Visitei alguns dos municípios mais destruídos pelas enchentes no Estado de São Paulo. Percorri áreas urbanas e rurais ao lado dos Prefeitos Osmar Felipe Jr, de Cunha e Ana Lúcia Bilard Sicherle, de São Luiz do Paraitinga, para conhecer suas necessidades e apoiá-los nas principais demandas junto ao governo. Ouvi o testemunho de pessoas que limpavam a lama de seus aposentos, escritórios, lojas, consultórios, restaurantes, bares, pousadas, oficinas, constatando que grande parte de seus móveis e equipamentos estavam inutilizados. Em muitos casos, o trabalho de toda uma vida foi aniquilado pela fúria das águas.
Em especial, São Luiz do Paraitinga, um dos mais importantes patrimônios históricos e culturais do Brasil, terra de Osvaldo Cruz e de Aziz Ab’Saber, teve destruída a sua bela Igreja Matriz, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e dezenas de casas coloniais de mais de 100 anos.
É nessas horas que vem à mente a capacidade do povo brasileiro de se solidarizar com aqueles que são atingidos por calamidades. Nosso povo é, por natureza, solidário. Tal virtude possibilitou que fosse amenizado o sofrimento das vítimas. Exemplos de solidariedade foram dados por vários artistas, radialistas, âncoras de programas de alta audiência que usaram de sua popularidade para arrecadar e distribuir alimentos, remédios, material de higiene e roupas entre os necessitados. A Caixa Econômica Federal disponibilizou sua estrutura para também ajudar os municípios, assim como, ocorreu no desastre de Santa Catarina, em 2009.
Em São Luiz do Paraitinga, ao visitar um sobrado onde uma família se dedicava a limpar a lama que havia chegado até as janelas do segundo andar, ouvi a descrição de como jovens praticantes de “rafting” salvaram mais de trezentas pessoas. Na primeira noite do ano, os membros dessa família estavam preocupados com as águas que não paravam de subir e foram para o segundo andar da casa. Mas, as águas os alcançaram chegando até a altura das janelas. Foi então, que apareceram os rapazes com os botes e resgataram a todos. Isso fez com que fossem chamados de “Os Anjos de Remo”.
Outro exemplo é o dos trabalhadores do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté que se deslocaram para a Câmara Municipal de São Luiz do Paraitinga. A Presidente Edilene Alves Perreira e os demais vereadores resolveram transformar o Plenário, durante o recesso, no lugar de recepção de víveres, roupas, água e alimentos. Equipes de metalúrgicos se revezam, há dias, para fazer a distribuição de maneira organizada.
Essas ações não resolvem definitivamente os problemas sociais, que, em última análise, têm sua origem na distribuição da renda no país. Porém, servem para abrandar a situação de calamidade das pessoas oferecendo um pouco de esperança.
Creio que devemos aproveitar esse momento e lembrar que os problemas só poderão ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de solidariedade. A solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos governos e dos governados.
A solidariedade é uma exigência de ordem moral. Precisamos fazer um esforço em favor de uma ordem social mais justa, aonde a riqueza da nação venha a ser mais bem compartilhada, onde as tensões possam ser melhor resolvidas e os conflitos encontrem mais facilmente uma solução.
Vamos aproveitar essa oportunidade para despertar em nós a necessidade de participarmos de ações em benefício da sociedade. Vamos incorporar ao nosso cotidiano ações que visem o bem de todos. O impacto dessas atitudes será um país melhor, onde as pessoas desfrutarão de uma vida mais digna e justa.
Da mesma forma, precisamos agir em relação ao Haiti, o mais pobre país das Américas, atingido por forte terremoto. Lá, 20 brasileiros faleceram, 18 das Forças Armadas que participavam da Missão de Paz da ONU, o diplomata Luiz Carlos da Costa, nº 2 da ONU, e D. Zilda Arns, sobre cuja cabeça caiu uma parte da igreja ao concluir sua conferência sobre como “a construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor. Tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social”.