Jornal do Brasil

Meu filho Eduardo, o Supla, que mora na Praça da República, em São Paulo, tem chamado minha atenção para o número crescente de rapazes e moças que perambulam no centro da cidade, principalmente pelo bairro da Luz, fumando crack, maconha ou ingerindo outras drogas. Volta e meia se vê alguma cena de violência. Esta região passou a ser denominada de Cracolândia. O fenômeno é dos mais graves, não apenas na cidade de São Paulo, com em todo o país. Por outras cidades também se espalha a preocupação dos pais pelo número crescente de jovens dependentes destas drogas.
Há algum tempo, conheci Asdrúbal Serrano, hoje com 39 anos, que ao longo de sua vida, conheceu de perto o drama dos que perambulam pelas ruas. Como sua mãe não tinha como bem cuidar dele, dado seu pai ser alcoólatra, colocou-o, aos dois anos de idade, numa instituição para educação de menores do tipo da Febem, que hoje se chama Fundação Casa. Ali ele viveu até os 17 anos, alternando trabalho com estudo, até que voltou a viver com sua mãe. Conseguiu um emprego de servente na Universidade Mackenzie e, graças a isso, cursou Letras. Depois fez a Escola de Sociologia e Política. Desde o tempo da Instituição, se interessou por teatro, o que foi muito relevante. Criou peças, foi ator, diretor e seguidor dos ensinamentos de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, Idibal Piveta ou Cesar Vieira e do Teatro União e Olho Vivo. Nos últimos anos, tem ensinado teatro para jovens de bairros da periferia e cidades do interior do Estado. Quando estava na Escola de Sociologia e Política, convidou-me para falar sobre a Renda Básica de Cidadania (RBC) aos estudantes. Entusiasmado com a proposição, escreveu algumas peças sobre como a RBC poderia afetar a vida dos trabalhadores na área rural de plantação de café, na cidade de Caconde, bem como poderia auxiliar os jovens da Cracolândia a se libertarem das drogas.
Recentemente, dei meu livro “Renda de Cidadania – a Saída é pela Porta”, publicado pela Fundação Perseu Abramo e Cortez Editora, para o Ziraldo e sugeri que fizesse uma cartilha que explicasse o que é a RBC. Ele me disse: “Eduardo, gosto muito da proposta e de você. Escreva-me um texto dirigido para as crianças, explicando o que é e lhe darei a cartilha de presente”. Assim, escrevi uma carta para os meus cinco netos e para o Menino Maluquinho, personagem do Ziraldo, e lhe enviei. Logo, ele produziu a cartilha, “Uma História Feliz, A Renda Básica de Cidadania”. Ficou jóia. Li para minhas netas e netos de 4 a 7 anos, que disseram: “Vovô, compreendi tudo”.
Na última semana, fui, com o Asdrúbal Serrano, à Cracolândia, conversar com aqueles jovens. Distribui a cartilha e disse que voltaria na tarde seguinte para explicar a eles o sentido da RBC e, também, para apresentar a peça do Asdrúbal sobre o tema. Na data marcada, fomos bem recebidos, mas, como a equipe do Programa Profissão Repórter, de Caco Barcellos, e um fotógrafo da Folha de S. Paulo estavam presentes, os rapazes disseram que, com as câmeras, eles não se aproximariam para a reunião.
Sendo assim, a equipe do Teatro Oficina propôs a Asdrúbal Serrano e ao seu grupo de jovens apresentarem as peças “Krake Aviltadas” e “RBC na Cracolândia”, no Teatro Oficina, à Rua Jaceguai, Bela Vista, no próximo dia 23 de outubro, às 20 horas. Vamos, então, convidar todos aqueles jovens e mais o público interessado para assistir às peças e debater como enfrentar o problema do crack que se espalha por todo o Brasil.