Jornal do Brasil

Depois de longo período de trabalho, me permiti sete dias de descanso combinados com palestras no Uruguai. Fui para a Vila de José Ignácio, local de especial e sossegada beleza, a 35 km de Punta del Leste. A população local, 120 habitantes, recebe, no verão, nada menos que meio milhão de pessoas vindas da Argentina, dos EUA, da Europa, do Brasil, do próprio Uruguai. Fiquei na Estância VIK, a 8 km da vila, onde uma construção desenhada pelo arquiteto Marcelo Daglio relembra as tradicionais propriedades rurais do país.
A cortesia do povo uruguaio chama a atenção. Em toda a parte, seja nas ruas, nos cafés, nos táxis, nos restaurantes ou nas lojas se é bem acolhido. No Palácio Legislativo, onde me reuni com os senadores da Frente Ampla, a convite do senador Alberto Couriel e da senadora Lucia Topolansky, esposa do presidente José Mujica, e no Ministério do Desenvolvimento Social (Mides), onde dialoguei com a ministra Ana Maria Vignolli e sua equipe sobre programas de transferência de renda, fui carinhosamente recebido.
Em visita à Universidade do Uruguai, proferi uma palestra na Faculdade de Ciências Sociais a convite dos professores José Maria Busquet, um dos maiores estudiosos dos sistemas de seguridade social na América Latina, e Christian A. Mirza, diretor do Departamento de Trabalho Social do Mides, sobre a importância da renda básica para a justiça social.
Surpreendi-me com o extraordinário impacto que a Copa do Mundo de 2010 teve sobre os uruguaios. Ao visitar o Estádio Centenário, no Parque Batlle e Ordonez, construído para 100 mil espectadores e para abrigar a primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1930, ocasião em que o Uruguai se tornou o primeiro campeão, percebi o quanto o futebol aproxima os povos e tem enorme potencial de integração. Ali visitei o Museu do Futebol que homenageia Pelé, Maradona, mas, é claro, a maior honra é para Obdúlio Varella, o grande herói do Maracanazo, quando, em 1950, o Uruguai se tornou Campeão Mundial, outra vez, num triste dia para nós, brasileiros, que perdermos a final por 2 x 1.
Por ter sido o time das Américas que conseguiu a melhor colocação na África do Sul, por ter sido Diego Forlán, o número 10 da seleção celeste, considerado o melhor jogador, e pela garra com que todos os jogadores se empenharam, há um enorme sentimento de gratidão por parte de todo o povo. Nota-se nos jovens um elevado sentimento de autoestima. O presidente José Mujica recebeu a seleção no Palácio do Governo, e o escritor Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina, disse: “Oxalá que hoje a deusa do vento volte a beijar nossos pés para que, independentemente do resultado, mantenhamos a honra no mais alto”.
Ao se empenhar para que a África do Sul fosse a sede da Copa do Mundo, o presidente Nelson Mandela intuiu muito bem – como já havia feito com o rúgbi, mostrado no filme Invictus – que o futebol é um formidável instrumento de integração e de pacificação dos povos. Faço votos que o Brasil, em 2014, realize a Copa do Mundo num patamar ainda mais alto de união e entendimento entre as nações de todo o mundo.