Revista Caros Amigos – Edição de Março

Coincidentemente, comemoramos na mesma semana os 20 anos da libertação de Nelson Mandela (em 11 de fevereiro de 1990), e os 30 anos da fundação do Partido dos Trabalhadores, em (10 de fevereiro de 1980). Na segunda metade dos anos 70, como professor de economia na EAESP-FGV e redator de artigos de economia da Folha de S.Paulo, recebi a recomendação de amigos: “Seus artigos são muito lidos, seria bom você defender suas ideias no parlamento”. Considerei, então, eleger-me deputado e, assim, em 1978, fui eleito deputado estadual pelo MDB. Já interagia com os movimentos sociais e sindicais, como o dos metalúrgicos de São Bernardo, de professores, motoristas de ônibus, garis e outros em São Paulo. Observava que os responsáveis pela política econômica deviam ouvir não apenas os empresários, mas também os trabalhadores, diretamente afetados por suas decisões. Em 1979, com a extinção da Arena e do MDB pelo presidente Ernesto Geisel, vários líderes sindicais e intelectuais resolveram fundar o PT. O objetivo era dar voz e vez aos que, por séculos, estavam à margem das decisões sobre a vida pública brasileira e construir uma nação solidária, igualitária e justa. Fui convidado para participar da fundação do PT na histórica reunião do Colégio Sion, com outros cinco deputados estaduais: Irmã Passoni, João Baptista Breda, Geraldo Siqueira, Marco Aurélio Ribeiro e Sérgio Santos. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ali estavam Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Perseu Abramo. Assim como Nelson Mandela, que presidiu a África do Sul de 1994 a 1999 com apoio do Congresso Nacional Africano (CNA), o presidente Lula e o PT continuam a dar passos importantes para o avanço dos direitos à cidadania. Entre as ações bem-sucedidas de Mandela está a criação da Comissão da Verdade e da Reconciliação, presidida pelo Bispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz. Essa comissão percorreu a África do Sul, ouviu as pessoas e familiares das vítimas de atrocidades cometidas durante o Apartheid, bem como os responsáveis pelos abusos. Na medida em que esses reconheciam terem cometido tais desmandos, estabeleceu-se a verdade e pôde haver a anistia. Conforme mostra o excelente filme Em minha terra, o triunfo da verdade colaborou para a reconciliação e a democratização daquele país, propósito semelhante ao que a Comissão de Verdade e Reconciliação, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos, deseja realizar no Brasil. Eduardo Suplicy é senador