Revista Caros Amigos – Edição de Setembro

Renovo o apelo que fiz, da Tribuna do Senado e em carta, ao Presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, para que reconsidere sua decisão de retirar da programação da TV Cultura o “Manos&Minas”. Trata-se do primeiro programa em rede aberta de televisão que deu espaço para o Hip-Hop. Propiciou que artistas como DJ, Grafitti, Bboys, Emicida, DJ Erick Jay, Per Raps se apresentassem, com respeito e dignidade, e ganhassem visibilidade na grande imprensa.
Artistas consagrados do Rap nacional, como Rappin Hood, Thaíde e Max BO – que antes fazia sucesso no programa “Brothers” com Supla e João Suplicy, na Rede TV – se tornaram âncoras do “Manos&Minas”. O programa também revelou o rapper Kamau, autor de um livro, em linguagem típica do rap, para o ensino fundamental. Abriu espaço para Ferréz e outros escritores.
No tempo em que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda menino, saiu do interior de Pernambuco para vir, com sua mãe e irmãos, encontrar seu pai em São Paulo, o que acontecia no Brasil era retratado pelas canções de Patativa do Assaré, como “Triste Partida”, entoadas pelo sertanejo Luís Gonzaga. Hoje, se quisermos conhecer o sentimento dos jovens da periferia das grandes metrópoles, precisamos ouvir o que dizem composições como “O Homem na Estrada”, ou “Vida Loka” de Mano Brown, dos Racionais MCs.
Sugiro ao Presidente João Sayad que compareça ao Festival da Godoy, que este ano acontece em 11 de setembro na Favela da Godoy. Ali, onde termina a Avenida Albert Sabin, no Capão Redondo, em São Paulo, as famílias se organizam para fazer uma espécie de quermesse com a venda de artesanatos, comes e bebes nas janelas e portas de suas casas. Naquela rua se reúnem quase cinco mil crianças, jovens e seus pais desde à tarde até a madrugada seguinte. Ali se apresentam os mais diversos conjuntos de Rap. Os Racionais MCs costumam tocar por último, mesmo assim o pessoal espera para vê-los, quase ao amanhecer.
Ao conhecer o que lá se passa, como em tantos outros bairros de muitas cidades, o presidente Sayad se dará conta do valor cultural inestimável de “Manos&Minas”. Da mesma maneira que a TV Cultura tem, há trinta anos, o programa de música sertaneja de Inezita Barroso, “Viola, Minha Viola”, será próprio que também continue com um dedicado à cultura Hip Hop. Também será oportuno que dialogue antes com Rapin Hood, que deixou o programa por discordar das mudanças em relação ao projeto inicial, com Mano Brown, Ferréz e os nomes acima citados, para criar um programa ainda melhor.