Cemitério Dom Bosco, em Perus (FOTO: PREFEITURA DE SÃO PAULO)
Cemitério Dom Bosco, em Perus (FOTO: PREFEITURA DE SÃO PAULO)

São ao menos 27 anos de espera por uma identificação positiva por parte de várias famílias de desaparecidos políticos, vítimas da brutal repressão da ditadura militar. A descoberta das ossadas no cemitério Dom Bosco, em Perus, zona oeste de São Paulo, reacendeu as esperanças para que finalmente se descubra o destino de parte dessas vítimas.

Na manhã do dia 4 de setembro de 1990, centenas de sacos com ossos foram desenterrados no local. Na vala comum, onde são enterrados corpos de pessoas que não foram identificadas pela polícia ou seus familiares, tinha 50 centímetros de largura, 2,70 metros de profundidade e 30 metros de comprimento.

A pressão foi grande para que houvesse um trabalho sério e competente de identificação, mas pouco ou quase nada foi feito nos vinte anos seguintes – a maior parte do material ficou pulando pela Unicamp (Universidade de Campinas), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), e perícias da polícia científica do Instituto Médico Legal (IML) paulista.

De Perus, as ossadas foram então enviadas, no dia 1º de dezembro de 1990, para a Unicamp, onde, sob coordenação do médico legista Fortunato Badan Palhares, deveriam ser catalogadas, classificadas e estudadas para que as identidades fossem descobertas.

Na Unicamp, as ossadas ficaram por 20 anos. Segundo reportagem do jornal El País, no período foram identificados seis desaparecidos políticos: Dênis Casemiro (1946-1971), Sônia Maria Lopes de Morais Angel (1946-1973), Antônio Carlos Bicalho Lana (1949-1973), Frederico Mayr (1948-1972), Helber José Gomes Goulart (1944-1973) e Emanuel Bezerra dos Santos (1943-1973).

No entanto, a burocracia, a falta de verbas e o pouco interesse de instituições em seguir com as investigações reduziram drasticamente a velocidade dos trabalhos pelas duas décadas seguintes, até que a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) se interessasse pelo caso, em 2014.

Desde então, as caixas contendo as ossadas estão no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf), onde os especialistas ligados Grupo de Trabalho Perus já examinou 626 das 1.049 caixas de ossos retiradas de Perus.