Encontro Lula Livre discute futuro e novos caminhos. Atos de 7 a 10 de abril pelo Brasil e o mundo e participar da oposição ao Bolsonaro estão entre eles

Por Rafael Mendonça. Com Sul 21 e Agência PT

Foi um encontro para renovar, renovar as ideias, o trabalho, as diretrizes. Cerca de 1.500 participantes estiveram no Sindicato dos Metroviários no último sábado, 16, discutindo novas formas de mostrar ao Brasil a necessidade de tirar Lula de sua cela em Curitiba. Entre os dias 7 e 10 de abril será realizada a Jornada Mundial Lula Livre, para marcar um ano da prisão do ex-presidente. Serão mais de 320 atos pelo Brasil e pelo mundo.

“Lula livre é Brasil livre”, afirmou o ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A importância neste momento do Brasil que as ideias de Lula estejam livres foi considerada gigantesca.

O evento contou com diversas lideranças da esquerda brasileira, de partidos e movimentos sociais, todos em busca de alternativas para a conjuntura política, bem como novos caminhos para seguir denunciando as contradições dos processos que correm contra Lula e a injustiça de sua prisão.

Foto: Paulo Pinto/Agência PT

“A luta pela liberdade do Lula tem que ser uma luta de toda a esquerda brasileira, de todos aqueles que defendem uma democracia no país. Porque democracia não combina com preso político. O Lula é um preso político no Brasil e nesse momento onde as contradições da Lava Jato começam a vir à tona de outras maneiras, é importante reforçar que o Lula é um preso político e de fazer a luta pela sua libertação”, disse Guilherme Boulos, líder do MTST e candidato à presidência pela PSOL em 2018.

Com os atos marcados para o começo de abril, o movimento começa uma nova fase de seu trabalho. “Nós levantamos a bandeira Lula Livre porque ela também significa a defesa da soberania. Estão entregando a maior riqueza do País, a nossa Petrobras. Querer Lula Livre é defender a soberania!”, disse Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e deputada federal . O Comitê Lula Livre também quer tomar parte na oposição ao governo Bolsonaro.

Para Manuela D’Ávila (PCdoB), a perseguição a Lula sempre foi a perseguição a tudo que o campo da esquerda representa. “Não foi a prisão de um ex-presidente, foi a prisão de um sonho”, afirmou. Para Gleisi, as mobilizações em torno da pauta devem crescer e se tornar mais ativas. “Vamos pra rua, presidente Lula. Vamos provar a sua inocência”, afirmou a presidenta do Partido dos Trabalhadores.

No encontro, foi lida uma carta do ex-presidente Lula.

Foto: Ricardo Stuckert

Confira abaixo na íntegra:

Meus amigos e minhas amigas,

Quero, em primeiro lugar, agradecer a solidariedade e o carinho que tenho recebido do povo brasileiro e de lideranças de outros países, neste quase um ano em que me encontro preso injustamente. Agradeço especialmente aos companheiros da vigília em Curitiba, que me confortam todos os dias, aos companheiros que constituem os comitês Lula Livre dentro e fora do Brasil, aos advogados, juristas, intelectuais e cidadãos democratas que se manifestam pela minha libertação.

A força que me faz resistir a essa provação vem de vocês e da convicção de que sou inocente. Mas resisto principalmente porque sei que ainda tenho uma missão importante a cumprir neste momento em que a democracia, a soberania nacional e os direitos do povo brasileiro são ameaçados por interesses econômicos e políticos poderosos, inclusive de potências estrangeiras.

Como sempre fiz em minha vida, e lá se vão mais de 45 anos de atividade sindical e política, encaro essa missão como um desafio coletivo. A luta que faço para ter um julgamento justo, em que minha inocência seja reconhecida diante das provas irrefutáveis da defesa, só faz sentido se for compreendida como parte da defesa da democracia, da retomada do estado de direito e do projeto de desenvolvimento com inclusão social que o país quer reconstruir.

A cada dia que passa fica mais claro para a população e para a opinião pública internacional que fui condenado e preso pelo único motivo de que, livre e candidato, seria eleito presidente pela grande maioria da população. Minha candidatura era a resposta do povo ao entreguismo, ao abandono dos programas sociais, ao desemprego, à volta da fome, a todo o mal implantado pelo golpe do impeachment. É uma luta que temos de levar juntos, em nome de todos.

Para me tirar das eleições, montaram uma farsa judicial com a cobertura dos grandes meios de comunicação, tendo a Rede Globo à frente. Envenenaram a população com horas e horas de noticiário mentiroso, em que a Lava Jato acusava e minha defesa era menosprezada, quando não era simplesmente censurada. A Constituição e as leis foram desrespeitadas, como se houvesse um código penal de exceção, só para o Lula, no qual meus direitos foram sistematicamente negados.

Como se não bastasse me prender, por crimes que jamais cometi, proibiram que eu participasse dos debates e das sabatinas no processo eleitoral; proibiram minha candidatura, contrariando a lei e a ONU; proibiram que eu desse entrevistas, proibiram até que eu comparecesse ao velório de meu irmão mais velho. Querem que eu desapareça, mas não é de mim que têm medo: é do povo que se identifica com nosso projeto e viu em minha candidatura a esperança de recuperar o caminho de uma vida melhor.

Dias atrás, ao me despedir do meu querido neto Arthur, senti todo o peso da injustiça que atingiu minha família. O pequeno Arthur foi discriminado na escola por ser meu neto e sofreu muito com isso. Então, prometi a ele que não vou descansar até que minha inocência seja reconhecida num julgamento justo.

Na emoção daquele momento, recordo-me de ter dito: “Vou te mostrar que os verdadeiros ladrões são os que me condenaram”. Pouco depois, o jornalista Luís Nassif revelou ao público o acordo ilegal e secreto entre os procuradores da Lava Jato, a 13a. Vara Federal de Curitiba, o governo dos Estados Unidos e a Petrobras, envolvendo uma quantia de 2,5 bilhões de reais.

Essa quantia foi tomada à maior empresa do povo brasileiro por uma corte de Nova Iorque, com base em delações levadas a eles pelos procuradores do Brasil.

E eles foram lá aos Estados Unidos, com a cobertura do então procurador-geral da República, para fragilizar ainda mais uma empresa que é alvo de cobiça internacional.

Em troca dessa fortuna, a Lava Jato se comprometeu a entregar ao estrangeiro os segredos e informações estratégicas da nossa Petrobras.

Não se trata de convicções, mas de provas concretas: documentos assinados, atos de ofício de autoridades públicas. Estes moralistas sem moral ocupam hoje altos cargos no governo que só foi eleito porque eles impediram minha candidatura. Mas quem está preso é o Lula, que nunca foi dono de apartamento nem de sítio, que nunca assinou contratos da Petrobras, que nunca teve contas secretas como essa fundação que foi descoberta agora.

Mais do que manifestar indignação com esses fatos, quero dizer a vocês que o tempo está revelando a verdade. Que não podemos perder a esperança de que a verdade vencerá, e ela está do nosso lado. Por isso, peço a cada um e a cada uma que fortaleçam cada vez mais a nossa luta pela democracia e pela justiça. E só vamos alcançar esses objetivos defendendo os direitos do povo e a soberania nacional, porque foi contra estes valores que fizeram o golpe e interferiram na eleição. Foi para entregar nossas riquezas e reverter as conquistas sociais. Que os comitês Lula Livre tenham isso bem claro e atuem cada vez mais na sociedade, nas redes, nas escolas e nas ruas.

Tenho fé em Deus e confiança em nossa organização para afirmar com muita certeza: nosso reencontro virá. E o Brasil poderá sonhar novamente com futuro melhor para todos.

Muito obrigado, e vamos à luta, companheiros e companheiras.

Um grande abraço do

Luiz Inácio Lula da Silva

Curitiba, 16 de março de 2019