O ator Sergio Mamberti (esq.) e o vereador Suplicy na audiência pública (FOTO: GABINETE EDUARDO SUPLICY)

A questão da construção das torres ao lado do Teatro Oficina Uzyna Uzona ganhou força por conta da recente decisão do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), que aprovou o empreendimento no terreno ao lado do teatro, que pertence ao Grupo Silvio Santos.

O diretor e dramaturgo da companhia teatral do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, deu início a um movimento de protesto contra a decisão. Ele alega que a obra vai descaracterizar o espaço, que ficará isolado entre os prédios.

“Para esse pessoal da especulação imobiliária não existe gente, é só número. Estão mexendo com algo que não sabem o que é. Querem nos tomar um patrimônio como se fosse uma propriedade qualquer. E não se trata apenas do nosso espaço. Hoje vim pedir à Câmara que dê um olhar para o Bixiga, um bairro com casas baixas. E não só cimento, e prédio e mais prédio. Andar por lá faz bem ao corpo, coração e à alma. Não se pode destruir isso. E essas torres são a ponta de lança para o extermínio do Bixiga e o ‘genocídio’ do povo que ali mora”, protestou durante a audiência pública realizada Câmara Municipal nesta segunda-feira (11/12).

O Teatro Oficina foi inaugurado em 1958 e acabou destruído por um incêndio em 1966, mas teve a sede reconstruída em um projeto assinado pela arquiteta Lina Bo Bardi. No início dos anos 1980, o local foi tombado pelo próprio Condephaat. Recebeu o mesmo benefício em âmbito municipal (Conpresp) e federal (Iphan), este último em 2010.

O ator Sérgio Mamberti é morador do Bixiga há mais de 60 anos. Para ele, evitar a verticalização é preservar a história e cultura do bairro. Na visão do gestor cultural, cabe ao poder público encontrar uma solução nesse sentido.

“Porque nos países onde a cultura é prestigiada, o Estado se responsabiliza. E a Constituição diz isso: o governo deve se responsabilizar e promover a atividade cultural. O Bixiga sempre foi espaço de acolhida para a arte. Quantos teatros hoje não têm uma história ligada ao bairro? E lá temos uma diversidade incrível, o Carnaval, enfim. Tudo isso está ameaçado por uma tendência de verticalização, cuja primeira iniciativa passa por essas três torres, que vão causar uma grande perda pra cidade. Creio que essa luta de preservação cultural está ligada à luta pela criação do Parque Bixiga”.

Mamberti e o movimento de preservação do Teatro Oficina defendem, além da manutenção do tombamento do terreno, a criação de um parque no local. A ideia se tornou um Projeto de Lei, que tramita na Câmara.

Assinado inicialmente pelo vereador Gilberto Natalini (PV), o Projeto de Lei (PL) 805/2017, prevê que a área verde ocupe 11 mil metros quadrados junto às ruas Abolição, Jaceguai e Santo Amaro.