17991254_1112983382141307_1591371435296850838_n

Algumas pedras fundamentais da administração de João Doria (PSDB) são rentabilizar, economizar e arrecadar o máximo possível. Mas é curioso que a questão da redução de gastos com acidentes de trânsito não entre nesta “conta”.

Reduzir verba para o leite de estudantes e para a área de Cultura é “necessário”, mas a atual administração parece não se importar com o crescimento dos gastos com saúde por conta elevação dos acidentes de trânsito nas marginais, algo que foi contido na administração de Fernando Haddad (PT).

Doria autorizou o aumento dos limites de velocidade nas Marginais do Pinheiros e do Tietê no dia 25 de janeiro. Não por coincidência, o número de acidentes nas duas vias cresceu 67% no primeiro trimestre de 2017 em comparação com o mesmo período de 2016.

O impacto nos gastos com saúde pública é brutal quando observamos o desempenho no atendimento aos acidentes de trânsito. O número de operações de ajuda a vítimas de acidentes pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) nas marginais Tietê e Pinheiros triplicou nos primeiros três meses deste ano.

Segundo levantamento feito pela Folha de S. Paulo, entre 25 de janeiro e 10 de março deste ano foram realizados 186 atendimentos pelo Samu nas duas marginais. No ano passado, no mesmo período, foram 65 casos. Houve um aumento de 186,2% (ou crescimento de 2,9 vezes).

A marginal Tietê foi onde mais cresceu o número de atendimentos do Samu – houve houve um salto de 23 para 87 (278,3% de aumento, ou 3,8 vezes mais).

Com relação ao horário, o levantamento da Folha também quase quadruplicou o número de atendimento do Samu entre 10h e 17h, quando é possível desenvolver uma velocidade maior. Em 2016, no período analisado, foram 17 chamados. Neste ano, 62 (264,7%).

No mesmo período no ano passado, o Samu prestou, no máximo, quatro atendimentos em um dia. Já neste ano, com os novos limites, as ambulâncias atenderam até 11 ocorrências em apenas um dia. Tanto em 2016 como neste ano, mais de 90% dos atendimentos foi de trauma leve.

O texto da Folha traz ainda importante depoimento de Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).

Segundo o médico, o aumento já era esperado e a prefeitura optou por atender os pedidos de parte da população sem usar o que diz a ciência. “Qualquer aumento de velocidade gera aumento de óbitos, feridos e custos. É uma coisa a preocupar muito. Estamos lutando para preservar vidas”, afirma.

Segundo o diretor da Abramet, existe uma “doença epidêmica do trânsito”, que só no ano passado matou 42 mil pessoas no Brasil. O custo estimado dos acidentes de trânsito no país é de R$ 52 bilhões ao ano.